Norte dos Estados Unidos, verão de 2003.
O calor úmido daquela madrugada só era quebrado pelas janelas entreabertas, que deixavam o silêncio da floresta rastejar até dentro das casas. Numa dessas, um casal acordava no meio da noite sem saber por quê — como se algo tivesse se aproximado, em silêncio absoluto, e perturbado o ar ao redor.
Ela abrira os olhos primeiro. A luz do abajur piscava em laranja, falhando. O marido, ainda meio tonto, virou-se e a olhou confuso. Antes que qualquer palavra fosse dita, ambos ouviram algo se mexendo… dentro do quarto.
Ali, aos pés da cama, havia algo agachado — uma silhueta humana, mas grotesca, esquelética, sem pelos, com a espinha arqueada como a de um cão doente. Estava imóvel, de costas, como se os observasse com os ouvidos, não com os olhos.
Nenhum dos dois conseguia falar. Seus corpos congelaram. Um som úmido, como a respiração de algo afogado, saía da criatura.
Então ela se moveu. Rápida. Silenciosa. Correndo em quatro membros até o corredor e virando à esquerda — para o quarto das crianças.
O grito da mulher quebrou o silêncio ao mesmo tempo em que o marido saltava da cama. O som dos pés nus batendo no chão ecoava mais alto que seus próprios pensamentos. Ele não conseguia parar de imaginar o pior. E estava certo.
Ao abrirem a porta do quarto da filha, a cena parecia parte de um pesadelo enterrado na infância. O quarto inteiro estava coberto por riscos nas paredes, como se alguma coisa tivesse arranhado com unhas longas e apressadas. E no centro, a menina, caída no chão, com o peito aberto, lutando para respirar.
Ela ainda estava viva.
Ajoelharam-se ao lado dela, chorando, tentando manter os olhos da menina abertos.
Ela se esforçou para falar. Apenas duas palavras saíram, carregadas de sangue e medo:
— Ele… é o Rake.
A criatura já havia desaparecido, mas o nome ficou. E com ele, o horror.